Tempos sombrios, desestabilizações, rupturas e esperanças.
6 de junho de 2018 Júnior Melo da Luz
Leila Sousa
Doutorando do PPGCOM Unisinos
Os tempos sombrios pelos quais nosso País tem passado, nos levam a refletir sobre as resistências necessárias nos bancos e fora dos muros universitários, nas escritas, na vida e na escuta, no olhar atento ao outro e para nós mesmos, para o nosso interior, para as nossas memórias, saberes e insuficiências constitutivas. Assim, durante os dias 23, 24 e 25 de maio, presentes no III Colóquio Internacional de Investigação Crítica em Comunicação, pudemos refletir, problematizar e questionar as lógicas que nos movem, repensar o nosso papel como comunicadores sociais, os diálogos que estabelecemos – se apenas continuamos esperando pela aprovação dos pares – ou se temos expandido nossos tensionamentos para também aprender e apreender no diálogo fraterno, contínuo e respeitoso com a sociedade civil, os saberes populares, ancestrais, os infinitos outros que nos cercam e que por vezes silenciamos e excluímos. De que modo estamos considerando as lutas dos povos cotidianamente excluídos? Qual tem sido o nosso papel como investigadores críticos de comunicação? Estamos efetivamente defendendo e lutando pela comunicação como um direito humano? Estamos cientes que o direito à comunicação também possibilita ou pode ser um entrave ao exercício de outros direitos e da própria compreensão, conscientização e ampliação desses direitos e da visibilização de demandas?
As falas dos pesquisadores presentes no evento nos permitiram pensar na necessidade de tensionar cada vez mais o sentido do que é a comunicação, para assim refletirmos sobre os sentidos das nossas pesquisas, as necessárias mudanças de foco, rupturas e continuidades e para compreender a necessidade de fugir de binarismos, reducionismos, determinismos de toda ordem, que marginalizam, excluem e silenciam sujeitos, perspectivas e olhares. É nesse sentido que o prof. Erick Torrico, presente no evento, enfatizou a necessidade do pensamento decolonial no sentido de romper lógicas e propor liberdades. Entendendo a comunicação como um processo que precisa tornar-se humanizador, de construção social pluriversal, valorizando a diversidade, a pluralidade, a ressemantização de vozes e o protagonismo dos sujeitos, um protagonismo que se efetive na dimensão de valorização das diferenças culturais e das diversidades, e não apenas se defina através de táticas e estratégias mercadológicas.
Propor novas visões sobre a comunicação também nos leva a entender os sujeitos como emancipados, autônomos, dinâmicos e em processo, como expôs a professora Jiani Bonin em sua fala. Percebendo-os a partir das periferias de onde falam e/ou que os atravessam. É urgente entender de onde viemos, conhecer nossas realidades, nossas memórias, diagnosticar o presente a partir de perspectivas do que já se viveu, num movimento de reterritorialização que não se trata de fechamento, de redução de perspectivas, mas de valorização de sabedorias, conhecimentos, de resistências que se dão pelas particularidades e pelo poder reivindicador da linguagem, como bem ressaltaram os professores Raúl Ochoa e Erick Torrico.
Tensionar reflexões sobre a comunicação que extrapolem os muros e as cadeiras universitárias, nos faz entender a importância do pensamento desestabilizador, fronteiriço, da ruptura e da instabilidade que nos permite construir pontes, o contato com novas perspectivas, negociando, resistindo e também contestando lógicas através da linguagem.
É tomando consciência de que atravessamos tempos sombrios e de que os abismos nos constituem e são fundamentais para nossa mudança de visão, de curso, de lugar de observação e atuação, que podemos enxergar o quanto eles são fundamentais para construir novos caminhos, para fundamentar novas interpretações e fundamentar olhares críticos, reflexivos e tensionadores para a pesquisa e para a vida. É nesse movimento e num processo que é doloroso, mas também necessário, emancipador, que podemos fazer florir esperanças fundamentadas numa racionalidade lúcida, como bem destacou a professora Soledad Segura em sua fala sobre os abismos e as esperanças que nos atravessam. Para transpor os desertos e os abismos, precisamos estar abertos às desestabilizações, entendendo que as desconstruções são próprias do caminhar e necessárias para ampliar olhares, perspectivas, e, especialmente, para construir uma comunicação mais humana, empática, como um direito cidadão.