UMA LEITURA CRÍTICA DOS MEIOS AINDA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

30 de maio de 2018 Júnior Melo da Luz

Vitória Brito Santos

A importância do ensino educomunicativo nas escolas

O III Colóquio de Investigação Crítica em Comunicação, que ocorreu na Unisinos, entre os dias 23 e 25 de maio, suscitou alguns debates sobre o processo de ensino para as mídias, quando pensamos o público infantil. Os debates feitos sobre as mídias na contemporaneidade, sobre os sujeitos e suas ações me levaram a refletir sobre o que alguns autores, como Ismar Soares (1) denominam como educomunicação/e,ou comunicação e educação e de que forma isso poderia passar a fazer parte do conteúdo curricular. A infância é para mim uma área muito cara. Foi meu campo de estudos no decorrer da minha formação acadêmica e continua sendo, deste modo, resolvi refletir um pouco sobre nossas responsabilidades enquanto educadores e comunicadores, pensando a educação como um processo de ensino formal (escola) e não formal (mídia), nos quais as crianças estão inseridas diariamente.

O Ensino Regular há muito tempo não consegue mais dar conta de contemplar as múltiplas vivências e inteligências dos educandos. Novas práticas precisaram ser “implementadas” para garantir um ensino/aprendizado que abranja as formas pluri de se construir conhecimento, como objetivo ampliar os conhecimentos e saberes desses alunos de forma que eles tenham uma educação de qualidade através de múltiplas vivências – onde os conteúdos programáticos sejam os meios e não os fins da aprendizagem.

As escolas brasileiras deveriam basear seus planos de ensino para além da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Deveria dialogar com os seus alunos e o entorno da escola, pois o que temos é a aprovação pela aprovação – em uma lógica de quanto mais melhor. Quantidade ao invés de qualidade, o que acaba criando um sistema de “preenchimento de formulário”, consistindo na forma de conseguir passar todo o conteúdo programático dentro do tempo estabelecido, muitas vezes, sem levar em consideração o (não) aprendizado e as subjetividades do aluno.

Para dar conta de explicar o processo comunicacional educativo que envolve o estudo de produtos midiáticos e jornalísticos, é preciso trabalhar com conceitos que dialoguem entre esses dois campos (Comunicação Social e Educação Escolar) dentro da influência mútua mídia e escola. Um conceito que pode auxiliar é o de  Educomunicação,  que vem a ser um conceito articulador e possibilita a compreensão de como ocorrem estes diálogos, o ponto inicial para visualizar a educomunicação como um conceito formativo do processo social e de interação entre sujeitos que ensinam ao mesmo tempo em que aprendem. De acordo com Soares (1) a educomunicação faz parte de uma prática cidadã e possui conceitos e ideias próprias que vão agir sobre o meio social. Tanto a educação como a comunicação são indispensáveis à construção da cidadania, a união de ambas agrega transformações significativas e muda as relações sociais.

Seguindo essa premissa de Ismar Soares, podemos entender que a educomunicação é um processo promotor de uma educação emancipatória que gera uma leitura crítica dos meios, independentemente do local em que é realizada, seja no espaço educativo “formal” ou “informal”. Nesse contexto, é pertinente trazer as contribuições de Paulo Freire, que trabalhou em prol de uma construção de cidadania humanizadora. Ele propunha uma educação na qual o educando se tornasse um sujeito capaz de ler o mundo. Nesse sentido, a educomunicação se torna uma forma indispensável de ensinar os alunos a conseguirem fazer uma leitura crítica dos meios, pois “quanto mais crítico um grupo humano, tanto mais democrático e permeável, em regra. Tanto mais democrático, quanto mais ligado às condições de sua circunstância” (2).

Os processos Educomunicação/ e,ou os processos de Comunicação e Educação são conceitos aplicáveis na prática diária de sala de aula, eles podem ser parte do Projeto Politico Pedagógico (PPP), assim como dos Planos de Ensino da Escola, servindo de base para uma educação que perpasse o meio social em que o aluno, possa se desenvolver integralmente para o exercício da cidadania. A forma como estruturamos o currículo escolar precisa ser revisto, as novas diretrizes da BNCC me incomodam profundamente, pois as disciplinas que auxiliam na formação crítica dos estudantes precisam ser sim, priorizadas juntos com as outras, a escola não é um local, somente, de preparação para o mercado de trabalho.

A condição permanente de sujeito globalizado, inserido em um contexto social plural, faz com que o ensino de como as mídias funcionam se tornem de suma importância no Ensino Básico, bem como, as disciplinas de Sociologia e Filosofia, que auxiliam na formação de sujeitos conscientes do bem comum e empáticos com os Outros. O entendimento de que aprendemos para as mídias e não somente por elas, é  uma articulação entre a realidade comunicacional e o ensino/aprendizagem e teria, então, como objetivo, a construção da cidadania.

Referências

  1. SOARES, Ismar. Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação: contribuições para a reforma do ensino médio. São Paulo: Paulinas,
  2. FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
#III Colóquio Internacional de Investigação Crítica em Comunicação

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