Romanzo criminale: a femme fatale no cinema neonoir italiano
4 de julho de 2017 Processocom
Prof. Dr. Alexandre Rossato Augusti
Prof. Adjunto do curso de Comunicação Social – Jornalismo (Unipampa)
Pós-doutor em Comunicação e Informação (UFRGS)
A obra cinematográfica Ligações perigosas (Romanzo Criminale- 2005), de Michele Placido, pertence ao neonoir italiano, que inicia a partir dos anos 90 [conforme asseguram Frezza (2012), e Caprara e Cozzolino (2016)].
O filme ressalta de forma muito marcante a atuação da bela prostituta chamada Cinzia, de codinome Patrizia (interpretada por Anna Mouglalis) e por quem o mafioso Dandi (interpretado por Claudio Santamaria) é apaixonado. Há uma cena em que o investigador Scialoja (interpretado por Stefano Accorsi) a vigia. Ele tem forte atração por Patrizia e a espia enquanto Dandi a beija sobre o capô do carro, numa performance quase sexual, ultrapassando os limites que geralmente marcam a abordagem hedonista dos filmes noir clássicos.
Patrizia e Dandi se entregam ao erotismo de um beijo sugestivo sobre o carro. Fonte: fotograma do filme.
Adiante, Patrizia é controlada violentamente pelo investigador quando volta para casa. Ela o provoca e, vestindo um chambre transparente, simula espancá-lo com um chicote, numa referência sadomasoquista. Ela se joga na cama, após o beija, de olhos abertos, observando se conseguiu seduzi-lo. Os seios da femme fatale aparecem e o casal transa. Mas a ousadia de Patrizia ultrapassa ainda mais efetivamente as performances sexuais alcançadas pelos filmes noir clássicos na cena em que ela começa a masturbá-lo sobre a roupa, marcando seu domínio sobre o policial.
Patrizia provoca o investigador, masturbando-o. Fonte: fotograma do filme.
Quando Patrizia vai à delegacia depor, devido a seu envolvimento com o grupo de Dandi, o comissário afirma que foi o mafioso quem pediu a ela que servisse de álibi a Freddo, seu amigo e parceiro no crime, interpretado por Kim Rossi Stuart. Pedindo à femme fatale que expresse isso verbalmente, a fim de que ele coloque Dandi na cadeia, ouve de Patrizia que ela faz os homens sonharem e não morrerem entre quatro paredes, o que também revela o poder da femme fatale. Ela protege seu namorado, mas adiante descobre que ele quer matar o investigador (de quem ela gosta) e seduz o primeiro, tirando parte de suas roupas (o que revela parcialmente seu pênis) e dizendo que não deve matar o policial se ele, Dandi, a quer para sempre.
O pênis parcialmente exposto também é uma marca do neonoir, erotizando a figura masculina. Fonte: fotograma do filme.
Ela diz para Dandi que o policial a havia tratado bem ao interrogá-la e o faz jurar pelo filho que dará a ele que não matará o comissário. Após obter o juramento, transam, o que sugere ter sido selado o acordo. Corpos parcial ou totalmente nus, além das relações sexuais explícitas, reportam a um hedonismo mais notório, representando uma das marcas do neonoir.
Referências:
CAPRARA, V.; COZZOLINO, G. Cinema noir e neonoir italianos: depoimento [19 de janeiro, 2016]. Napoli. Entrevista concedida a Alexandre Augusti.
FREZZA, L. Cinema noir e neonoir: depoimento [16 de maio, 2012]. Fisciano. Entrevista concedida a Alexandre Augusti.
ROMANZO Criminale. Direção: Michele Placido. Intérpretes: Kim Rossi Stuart; Anna Mouglalis; Pierfrancesco Favino. Itália, França e Reino Unido, 2005, 152 min [174 – versão estendida], preto e branco. Versão do título em português: Ligações criminosas.