Entre as enormes perdas para a sociedade está o moribundo jornalismo

25 de maio de 2017 Processocom

Elson Faxina

NO CONGRESSO NACIONAL a sociedade brasileira corre sério risco de perder direitos, fundamentais para a construção de uma democracia política, econômica, social e cultural, conquistados na última década, com o rompante reformista do atual governo, forjado no 3º turno das últimas eleições presidenciais, formado por partidos de centro direita e de direita, capitaneados pelo PMDB, PSDB e DEM. Essas reformas(?) retiram o Estado da mediação nas relações trabalhistas e isentam os patrões dos custos sociais, que passam a ser assumidos integralmente pelos trabalhadores. Representam um retrocesso há tempos sombrios da relação capital x força de trabalho, em que a aparente negociação democrática entre patrões e empregados se dava sem a “paridade de armas”, exigência mínima de uma democracia.

COM A REPÚBLICA DE CURITIBA a sociedade perde a chance de sonhar com uma Justiça de fato ao restabelecer o Estado de Exceção, de priscas eras, mantendo presos acusados sem provas, e soltos bandidos com provas derramadas pelas bordas. Instaurou-se um novo arcabouçou jurídico, com as máximas: na falta de provas, basta a convicção; palavra de ladrão tem valor de prova contundente contra outros, segundo o interesse do julgador, que em troca lhe brinda a liberdade; o julgador já deu o veredito antes mesmo de investigar, o que interessa agora é conseguir uma mísera prova ou então fartas delações, para satisfazer a turba; o julgamento é público e devidamente seletivo, de forma que já não importa mais o julgamento Justiça, o veredito popular já está dado.

COM O JORNALISMO ATUAL a sociedade perdeu a possibilidade da mais ampla informação, do debate de ideias, que pudessem levar ao conhecimento. Ao invés disso, a grande mídia denuncia e julga ao mesmo tempo e tem a pachorra de assumir, como se dela fosse, o discurso de que “sem essas reformas o país quebra”. Triste jornalismo esse que se transformou em inquisidor e juiz e na voz das tais “reformas modernizadoras”. Os próprios jornalistas verbalizam, sem nenhuma dúvida, a necessidade delas e, quando entrevistam alguém, que são sempre os pró-reforma, fazem o papel de jogar combustível na lenha fornecida pelo interlocutor. É um jornalismo que esquece o seu papel essencial de fazer o contraponto, de duvidar, de ser o “advogado do diabo”, de investigar e não ser simplesmente o porta-voz do pensamento da elite.

O QUE NOS TOCA COMO JORNALISTAS, além de lutar junto aos movimentos sociais na defesa dos direitos sociais e laborais, é a árdua tarefa de refundar o jornalismo. Precisamos decretar a morte desse jornalismo do mercado, que se robusteceu agora, com a mesma arrogância de antes, mas sem pejo, sem retoques de maquiagem. Um jornalismo cuja narrativa é profundamente autoritária, porque o sujeito do discurso é o próprio narrador, relegando os sujeitos em contenda no fato, no acontecimento. E, ao mesmo tempo, inventar um novo jornalismo, baseado na pluralidade de narrativas, no debate de ideias, na profusão de visões, nos diferentes contrapontos, mais na dúvida do que na verdade. Precisamos desenvolver um jornalismo da antítese, isto é, mais preocupado em ser a antítese do que se apressar em cortar atalho para fornecer a síntese.

#crítica do jornalismo#operação Lava Jato

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