1 mês sem Eliseo Verón e a perenidade de seu legado

15 de maio de 2014 Processocom

Tamires Coêlho

Eliseo Verón foi um dos muitos filósofos brilhantes que ajudaram o campo comunicacional a avançar. Já perdi as contas de quantos filósofos li nesses quase sete anos de dedicação ao estudo e à pesquisa da Comunicação, mas Verón tem um lugar especial na minha vida acadêmica: foi um dos primeiros que li e com quem me identifiquei quase que imediatamente durante o início de minha graduação; foi um dos autores que mais me chamaram atenção em meu primeiro curso de extensão universitária na UFPI (Universidade Federal do Piauí); foi um dos teóricos que embasaram minhas primeiras tentativas de produção de um artigo científico decente; foi um dos grandes responsáveis pelo meu interesse em Análise de Discurso; foi um dos poucos teóricos que me acompanharam desde a graduação e o TCC, passando pelo mestrado e a dissertação, até o doutorado e a tese ainda em construção.

Não é difícil achar pesquisadores em Comunicação que reconheçam a importância de Verón para nossa área, que valorizem sua teoria da Semiose Social… Difícil é expressar em palavras – as mesmas que ele sempre soube tão bem utilizar e organizar em seus livros e textos – a dimensão da perda desse pensador.

A Buenos Aires em que ele morreu em 2014 (há exatamente um mês, dia 15/04) era muito diferente da qual ele nasceu, em 1935. Durante seu percurso de vida, viu questionamentos filosóficos e antropológicos se complexificarem de maneira impressionante, sentiu a necessidade de reformular teorias que já não davam conta dos contextos que se delineavam em sua frente, propôs renovações à Semiótica – área na qual se destacou como poucos latino-americanos e à qual se dedicou, muitas vezes de maneira crítica.

Verón é um dos teóricos argentinos com maior inserção no cenário comunicacional brasileiro, tendo construído vínculos com o Brasil que ultrapassaram metade de seus 78 anos de vida. Muito da reflexão semiótica construída no âmbito acadêmico brasileiro passou (e ainda passa) por seu pensamento e por suas obras. Certamente, não deixará de passar também nos próximos anos…

Avesso a conceitos estáticos e fechados, Eliseo Verón privilegiava a ideia de processos, de construções dinâmicas. Foi um pensador aberto ao diálogo e enxergava à frente de seu tempo: foi um dos primeiros a antecipar o “fim da televisão” em seus moldes tradicionais e a gestação de uma nova forma de ver TV. 

Encerro esse texto com as palavras do professor Antonio Herbelê, que tão bem reforçam meu apreço e minha admiração por este grande teórico: “Havia um Verón curioso, próprio do investigador e também um impiedoso quanto às ideias. Ele deixava isso muito claro e, neste caso, a crítica nem sempre costumava ser carinhosa. Verón não morre, por essas coisas da perenidade das letras, pois continuaremos a conversar com ele, tensionar com seus escritos e, para isso, basta ler ou reler o que ele escreveu e estaremos dialogando com as suas ideias. Verón, portanto, estará sempre presente entre nós, no legado que nos deixa e na oportunidade de revisitar a proposta visionária e mesmo revolucionária do seu pensamento – típica da mente inquieta de um filósofo e semioticista”.

#Verón

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