Novos métodos e modelos para a pesquisa de mídia são tema da aula inaugural PPGCC Unisinos
25 de abril de 2014 Processocom
A aula inaugural do Programa de Pós-Graduação das Ciências da Comunicação da Unisinos, ocorrida na última quarta-feira, 23, foi ministrada pelo Prof. Dr. Michael Goddard, professor titular de Mídia e Coordenador da Escola de Artes e Mídia da Universidade de Salford.
Com o título “Machines, The Earth, The Cloud and the Stack: New Methods and Models for 21st Century Media Research” (Máquinas, O Mundo, A Nuvem e a Pilha: Novos métodos e modelos para a pesquisa de mídia no século 21) Michael trouxe para o debate novos métodos e abordagens emergentes, que procuram responder às problematizações de um ambiente permeado crescentemente por diversas e novas tecnologias.
Uma dessas abordagens é a da Arqueologia da mídia. Surgida da obra de teóricos da mídia alemã, como Friedrich Kittler, Seigfried Zielinski, entre outros, esse pensamento aparece como uma atualização da arqueologia do saber de Foucault para o audiovisual e a era da mídia digital. A Arqueologia da mídia surge como uma ruptura com as teorias de mídia clássicas, pela perspectiva da materialidade, contrapondo a ideia de descorporalização da mídia. Nesse sentido, privilegia o desenvolvimento tecnológico e as invenções científicas como processos midiáticos.
Os exemplos apresentados por Michael dão a dimensão das novas preocupações dessa corrente que trabalha com objetos não-humanos, como a ideia de “ouvir” as máquinas e seus “pensamentos”, as interações entre redes e a própria internet como uma espécie de circuito desse ambiente tecnológico em interação com a sociedade. Outro aspecto que se destaca na perspectiva da Arqueologia da mídia é seu interesse por aparatos sócio-técnicos que não obtiveram sucesso mercadológico ou que foram ultrapassados rapidamente. É o que Michael chama de obsolescência, ou fetichismo com objetos indesejados. É a partir desse contexto que surge o conceito de “Zombie Midia” (termo utilizado por Hertz e Parikka), ou a mídia que não morre. Essa concepção busca abordar o ciclo de vida completo dos meios de comunicação desde sua mineração e extração dos minerais que o compõe até seu descarte e reutilização como lixo eletrônico, não sendo compreendida, entretanto, como uma ecologia moral.
Quais caminhos a teoria da mídia está percorrendo no contexto contemporâneo? Com essa pergunta chave Michael lançou mão da proposta do que chamou de “Low Theory” ou baixa teoria. O termo procura dar espaço para o desenvolvimento de uma teoria que está no mesmo plano do objeto e não acima dele, num exercício de teorização mais livre e descentralizado das escolas clássicas. O trabalho da teoria seria, portanto, “unir sentenças que descrevem mundos possíveis, passado, presente e futuro, e as passagens entre eles”.
Nesse sentido, outra ideia emergente é a teorização sobre “Ecologia da mídia”, proposta por Matthew Fuller. Esse conceito deriva da intuição de que, em vez de simplesmente transmitir mensagens ou fornecer conteúdo, a mídia constrói mundos, e, assim, precisa ser entendida em termos ambientais e/ou ecológicos complexos. A ecologia de mídia não se preocupa apenas com os efeitos das tecnologias de mídia sobre o ser humano ou ambiente orgânico supostamente pré-existente e estável, mas sim com o co-desenvolvimento de seres humanos e máquinas como sistemas dinâmicos, em que o não-humano e humano não são claramente separáveis. Essa compreensão é baseada especialmente no entendimento de Félix Guattari da ecologia como uma ecologia física dos componentes materiais relacionada à uma ecologia social das relações e uma ecologia mental de subjetividade e fatores imateriais.
Diante da emergência dessas novas abordagens teóricas da mídia, que podem estimular e potencializar a criatividade na perspectiva da pesquisa em comunicação no século 21, Michael finalizou acrescentando que a teoria da mídia continua sendo tão necessária como nunca para dar conta do cenário hipermidiatizado e complexo no qual vivemos e o qual tende a se complexificar ainda mais ao longo do tempo.
Acompanhe aqui a íntegra da palestra com a tradução da Prof. Adriana Amaral e Prof. Gustavo Fischer.