Jornada inicia trabalhos do primeiro Centro de Estudos Europeus no Brasil
22 de fevereiro de 2014 Processocom
Nesta semana, durante os dias 17 e 18 de fevereiro, aconteceu a I Jornada de Estudos Europeus na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), campus da Pampulha – em Belo Horizonte. Essa jornada foi o evento que deu o pontapé inicial aos trabalhos do Centro de Estudos Europeus da UFMG, o primeiro centro do gênero no Brasil. O objetivo da jornada foi discutir modelos e experimentos sobre Estudos Europeus no Brasil e em outros lugares do mundo. Vieram a Belo Horizonte pesquisadores e diplomatas da Finlândia, do Reino Unido, da Alemanha, da Itália e de outros países, além de representantes brasileiros.
Já existem alguns Centros de Estudos Europeus espalhados pelo mundo, mas até então não havia nenhum centro no Brasil, segundo Ana Paula Zacarias, membro da Delegação da União Europeia no Brasil. Ela destacou que esse tipo de centro se caracteriza por ser interdisciplinar, por se interessar acerca de novas ideias sobre a Europa e sobre o que está sendo desenvolvido em âmbito europeu, muito além dos estereótipos. A preocupação agora é tentar conectar esse centro a outros centros no Brasil, em universidades que já demonstraram interesse pelo projeto, como em Santa Catarina, no Piauí, no Amazonas e em outros estados, como destacou Zacarias.
O pesquisador Juhana Aunesluoma, da Rede de Estudos Europeus de Helsinki (Finlândia), compartilhou sua experiência em trabalhar com Estudos Europeus em seu país. A rede da qual faz parte é também interdisciplinar e ajuda a financiar pesquisadores, seminários econômicos, além de investir em pesquisas dentro e fora da Universidade de Helsinki.
A pesquisadora portuguesa Ana de Medeiros, da Universidade de Kent, no Reino Unido, destacou a criação de Centros Europeus Globais e da relação entre estudos das áreas de Ciências Humanas e Ciências Sociais em conjunto, ressaltando o contexto histórico e social das pesquisas desenvolvidas no âmbito desses centros. Ana explicou ainda que, nesses centros globais, é preciso ir além das paredes da academia.
O estudo a partir de teorias e correntes europeias é importante, até porque muitas dessas teorias serviram e servem de base a pesquisas brasileiras na contemporaneidade. Além disso, há muitas questões e objetos no âmbito europeu com os quais é possível estabelecer parâmetros no cenário brasileiro.
No entanto, é preciso fazer uma crítica à forma como está se dando a internacionalização de algumas instituições brasileiras, especialmente à forma como foi implantada a jornada na UFMG. No evento, nenhuma das atividades foi ministrada em português, mas em inglês (e sem tradução simultânea), privilegiando os visitantes em detrimento dos próprios membros da comunidade acadêmica mineira. Ora, se a intenção é estimular o vínculo entre pesquisas europeias e brasileiras, não se pode negligenciar a língua materna do Brasil. Por mais que seja um Centro de Estudos Europeus, o contexto de suas atividades está situado no Brasil, onde a maioria da população não domina a língua inglesa. Isso pode desestimular muitos pesquisadores, além de reforçar uma segregação dentro do próprio ambiente universitário brasileiro, inviabilizando inclusive a intenção de ampliar o alcance dos estudos do centro para além do cenário acadêmico. Afinal, o que se quer é vincular pesquisadores e instituições educacionais ou recolonizar academicamente a pesquisa fora do território europeu? Fica a reflexão.