Uma mensagem, múltiplos aparelhos
19 de novembro de 2013 Processocom
Madonna esteve no Rio de Janeiro para lançar seu documentário #secretprojectrevolution no domingo, 20 de outubro de 2013. O Complexo do Alemão, uma das mais famosas favelas do Rio de Janeiro foi o local escolhido para a exibição do filme de 17 minutos de duração. Na Praça do Conhecimento, fãs esperavam a Rainha do Pop que teve sua fala introduzida por Luciano Huck, apresentador de TV. Porém, há um fato curioso que torna o evento ainda mais interessante e, por que não?, transformador: não estavam presentes os músculos definidos e sorriso de dentes frontais separados da cantora; não havia performance vocal; não estava ali a diva que trouxe a maior turnê mundial ao país há menos de um ano. Estava sua projeção com uma mensagem, exclusiva aos brasileiros, de que a arte é uma forma de se libertar. Ela, que revolucionou uma era quebrando estereótipos e fortalecendo o feminismo, continua antenada a seu tempo e propaga o fenômeno transmídia. Liberdade até mesmo para assistir o que quiser onde estiver.
Celular. Foi com esse aparelho que Luciano Huck registrou sua participação como âncora do evento. “Mídia democrática”, “tecnologia a favor do conforto”… conceitos não faltam para os meios de comunicação que transforam o planeta em uma esfera única através da mídia. No vídeo, ele fala que está trabalhando com a esposa (e também apresentadora) Angélica. Enquanto cuida dos filhos, traz sua mensagem à comunidade do Complexo. Em seguida, a intérprete de Express Yourself aparece para falar sobre o documentário, produzido em parceria com o fotógrafo Steven Klein. Apesar de a apresentação ser uma novidade, o filme já era conhecido por aqueles que estão conectados. Disponível para download via BitTorrent (sistema pelo qual vários usuários de internet compartilham conteúdo de forma gratuita) e para assistir online no canal YouTube, o #secretprojectrevolution foi exibido em telões ao redor do mundo apenas depois do lançamento na internet. Tudo muito ágil, tudo feito em um pequeno espaço de tempo. E é isso que configura o transmídia: múltiplas plataformas convergindo para um conteúdo único, facilitando o acesso aos produtos midiáticos e revolucionando a tecnologia a favor da mídia.
Confira o documentário na íntegra:
Diretamente conectado à chamada convergência midiática, o transmídia muda tanto a sociedade quanto a economia. Para Andres Kalikoske, coordenador do curso de Especialização em Televisão e Convergência Digital da Unisinos e integrante do Processocom, a convergência é entendida como a direção comum de dois ou mais fluídos para um mesmo ponto, onde passam a se apresentar de modo conjunto. “Uma vez instaurado o processo de digitalização, a convergência ultrapassa os limites das mídias, alterando significativamente as práticas comunicacionais da vivência humana”, ressalta o pesquisador.
É nesse contexto que o mercado e o próprio sistema capitalista são postos à prova, já que precisam se adaptar às necessidades de um público cada vez mais exigente. Cresce a cada dia a diversificação de produtos e projetos, principalmente audiovisuais envolvendo música, cinema e televisão, utilizando o recurso transmídia com o objetivo de tornar mais envolvente e dinâmica a técnica de prender os espectadores. Tablets e celulares são apenas os introdutores de um fenômeno que transforma televisão e cinema nos protagonistas de uma narrativa que começa nos aparelhos portáteis. Andres afirma que a visão de alguns estudiosos sobre a mudança de comportamento da sociedade em relação aos dispositivos móveis tende a defender o transmídia e as mídias digitais como substituto das mídias consolidadas (como a televisão). A exemplo disso, ele analisa: “esses pesquisadores defendem que ela [a TV] gradualmente desaparecerá, enquanto a internet triunfa. Mas não consideram que a verdadeira mudança comportamental talvez se encontre no consumo de múltiplas ofertas”. Dessa forma, o consumidor televisivo quando se conecta à internet, pode desfrutar não somente de uma telenovela ou programa de auditório, por exemplo, mas manter-se informado sobre esses produtos e notícias do dia via redes sociais digitais.
Vários países, vários canais: o projeto brasileiro
No Brasil, o primeiro projeto considerado transmídia por completo é o filme Latitudes. Estrelado por Alice Braga e Daniel de Oliveira, o longa só vai estar completo no cinema. Mas, antes disso, está sendo lançado semanalmente no YouTube e na televisão a cabo. A ideia é simples: como um seriado, partes de aproximadamente 10 minutos são lançadas na internet. Cada capítulo é gravado em uma localidade diferente, outra latitude. Paris, Londres, Veneza, Istambul e Buenos Aires são alguns dos destinos. Para o YouTube, os episódios são lançados apenas como uma série. No canal a cabo TNT, além do conteúdo disponível na internet, são transmitidos ensaios dos atores. No cinema, tudo será transformado em um único longa-metragem.
Dirigido por Felipe Braga, o projeto não pode se reduzir a definições como série ou filme. É os dois e é um só. É transmídia. Em entrevista à revista Veja, o diretor afirmou que o planejamento todo de Latitudes foi pensado para as diversas plataformas, principalmente a internet, que é uma forma democrática e direta de atingir o público. Na história, Alice Braga interpreta Olívia, uma editora de moda. Acompanhando desfiles ao redor do mundo, ela acaba encontrando com o fotógrafo José (Daniel de Oliveira) em seus destinos. Tendo como cenários estações, aeroportos, bares e hotéis, eles desenvolvem o romance que, como o próprio transmídia, muda constantemente de direção e plataforma, unindo as audiências em torno de um fenômeno que se instala seguindo a demanda dos públicos.