Palestra na Unisinos destaca relação entre etnografia e comunicação

30 de agosto de 2013 Processocom

Tamires Coêlho 

O prof. Dr. Edison Gastaldo (UFRR-RJ) esteve na Unisinos nesta quarta-feira (28/08) para o seminário-palestra “Etnografia no Contexto da circulação: métodos etnográficos e pesquisa em comunicação”, que reuniu professores e estudantes no campus de São Leopoldo-RS. O docente, que tem formação híbrida em Ciências da Comunicação e Ciências Sociais e que trabalhou 15 anos na Unisinos, retornou à instituição para falar das relações entre método etnográfico, comunicação e circulação.

Gastaldo pesquisa torcedores de futebol em bares, a fruição futebolística do ponto de vista dos torcedores a partir do método etnográfico. Para ele, a etnografia é a busca do pesquisador pelo ponto de vista do outro, buscar saber em que categorias os sujeitos veem o mundo: “O mundo não é feito de coisas, mas de significados compartilhados por outros membros da sociedade”, explicou. Assim, o sentido da busca etnográfica seria tentar entender o outro a partir de uma negociação de sentidos, tentar ser o outro sem se transformar nele, sem se perder na alteridade esquecendo-se de sua pesquisa.

Edison Gastaldo ainda falou de nomes importantes para a etnografia e explicou as bases que construíram esse método na Antropologia, mencionando que, antigamente, entrar em contato com a cidade primitiva era como estudar nosso passado, estudar fósseis vivos, de forma que os pesquisadores não saíam de seus gabinetes e, quando saíam, enxergavam outras culturas com inferioridade. “Em vez de entender o nativo, ele era colocado numa escala para ver quão civilizado ele era”, comentou o pesquisador.

Franz Boas foi o primeiro antropólogo, segundo Gastaldo, a focalizar sua pesquisa na tentativa de entender o mundo e a cultura do outro, a partir da compulsividade desse antropólogo em armazenar dados: ele usou filme, fotografia, desenhos, mapas, tudo para registrar aquelas culturas antes que elas desaparecessem. “Boas estava pesquisando o território, entrou em contato com as pessoas e ficou impressionado com a riqueza cultural do povo”, disse o professor.

O pesquisador em comunicação e ciências sociais, durante sua palestra, salientou que há dois elementos imprescindíveis à etnografia: a observação participante e o diário de campo. A observação não se limita apenas a observar para não ser visto como estranho/invasor, mas é uma maneira de interagir, conversar, ser aceito, negociar sentidos. O pesquisador participa para conseguir estar lá observando aquela situação social. Gastaldo ainda alertou para o perigo de o pesquisador desenvolver uma “participação observante”, na qual o sujeito pesquisador aproveita a situação social enquanto parte dela, a pretexto de estar observando. “Esse equívoco é muito fácil, e aí perde-se distanciamento para teorizar e analisar. É uma cilada da pesquisa etnográfica”, pontuou.

Já o diário de campo etnográfico é o registro sistemático da experiência de campo do pesquisador. Primeiramente, o pesquisador toma nota do que observa e, posteriormente, escreve em seu diário as experiências e os dados sem censuras. Na opinião de Edison Gastaldo, quanto mais rigoroso na manutenção do diário, melhor, porque a inserção do pesquisador nas redes de relações muda suas percepções em campo.

O professor destacou a “atitude etnográfica” como posição quase moral do pesquisador de sair do seu lugar de conforto, de ser humilde o suficiente para negociar sua entrada em uma situação social e de saber ouvir o que os sujeitos dizem. “O poder de previsão dos cientistas sociais brasileiros é nulo, porque não escutam as pessoas, só veem números, curvas, demografia… As manifestações recentes apontam para a necessidade urgente dessa escuta da população”, explicou ele. Ainda segundo Gastaldo, para entender a teia complexa de sentidos que envolvem os meios e os usos sociais desses meios, é preciso deixar de lado a ideia de que existe uma “mídia”, uma instituição monolítica que estaria separada da sociedade.

#etnografia#palestra

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