O campo científico em discussão no Brasil: percepções sobre a Reunião da SBPC
25 de julho de 2013 Processocom
Está acontecendo nesta semana (entre 21 e 26 de julho de 2013) a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Recife-PE. A ideia de reunir em um só evento pesquisadores brasileiros de todas as áreas é desafiadora, tendo em vista a quantidade de participantes e a infraestrutura necessária para recebê-los. É também muito interessante propor um encontro entre representantes de tantos campos acostumados a trabalhar de maneira individual: a reunião configura-se como um convite à interdisciplinaridade, à conexão entre campos e saberes, à rejeição do isolamento no processo de pesquisa.
Partindo da minha vivência no evento, no decorrer dessa semana, percebo que a reunião tem características e deficiências semelhantes ao cenário da pesquisa brasileira na atualidade. Apesar de o campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ser bastante grande, o evento não pareceu estar preparado para receber tantas pessoas ao mesmo tempo: quem tentou se credenciar na segunda-feira (22) perdeu as palestras que pretendia assistir pela manhã, enquanto esperava embaixo de um sol não muito agradável sua vez de receber o material básico do evento – eram cerca de 150 metros de fila para o credenciamento durante um evento que teve mais de 4 mil pôsteres inscritos para apresentação e outros milhares de participantes. Os estandes e tendas colocados no campus da UFPE impressionam em termos de estrutura e de resultados apresentados, mas a grande maioria ainda é ligada às ciências exatas, da saúde e da natureza. De maneira similar, no Brasil hoje são privilegiadas algumas áreas de pesquisa, seja quanto aos recursos destinados aos projetos, seja em termos de reconhecimento por parte das sociedades científicas.
Outro fator que chama atenção é que muitas soluções possíveis para o campo científico no Brasil ainda são tratadas no plano das reclamações do que não temos, ou de quanto estamos atrasados em relação a países como a Argentina, por exemplo, e sua tecnologia nuclear e espacial, mas ainda há poucas proposições e ideias no que concerne à perspectiva de mudança deste cenário.
No plano metodológico, percebi que a metodologia ainda é encarada pelos pesquisadores brasileiros – sobretudo de áreas pouco articuladas (no âmbito da pesquisa) à comunicação – como um conjunto de normas fixas e rígidas que garantiriam a ética da pesquisa e o formato adequado para a formulação de projetos. É um tanto decepcionante perceber que muitos pesquisadores e estudantes acreditam que uma pesquisa tem que ser constituída por testes estatísticos/testes de hipóteses, que as pesquisas quantitativas ainda são privilegiadas em detrimento das qualitativas no cenário científico nacional, e constatar que muitos investigadores ainda concebem que metodologia se restringe à formatação de um projeto, às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas de Técnicas), ao encaixe de objetos em métodos.
É interessante perceber que o campo científico tem avançado, nas suas mais diversas áreas, no sentido de reconhecer que bloqueios mentais, sensoriais e emocionais podem restringir e interferir em uma pesquisa e que muitos desses bloqueios são provenientes do sistema educacional em vigor no país. Por outro lado, muitos cientistas ainda têm uma concepção inflexível e arcaica de metodologia e da complexidade que envolve a construção de uma pesquisa.
As apresentações de trabalhos (pôsteres) estão acontecendo todos os dias, possibilitando o contato entre diversos pesquisadores de todo o Brasil no Centro de Convenções da UFPE. Terça-feira (23) apresentei o trabalho “Ana das Carrancas no Jornalismo Pernambucano”, fruto do meu trabalho de conclusão de curso na graduação.
Mais informações sobre o que está sendo discutido na reunião podem ser encontradas através do site http://www.sbpcnet.org.br/