O plantão e o interesse (do) público
7 de agosto de 2011 Processocom
Encontrei uma notícia que me pareceu interessante. Trabalhadores da maior mina de cobre do mundo – Escondida, no Chile – estavam em greve havia 10 dias, reivindicando melhores condições de trabalho. O assunto poderia até render uma boa suíte (resgate de notícias antigas) sobre incidentes em minas, algo infelizmente um tanto comum.
Perguntei ao editor responsável se a nota valia publicação e a resposta foi negativa. Ele poderia ter dado qualquer explicação para a recusa: “não é de interesse do nosso público”; “não há informações suficientes”; “somos um veículo da mídia corporativista burguesa e não nos cabe falar sobre greve de trabalhadores”. Todos esses motivos seriam falsos, aliás. Mas a razão apontada foi outra: “alguém morreu? Não? Então não nos serve”.
É legítimo que o editor se importe com a audiência do portal. Quanto mais leitores, maior o interesse dos anunciantes e, consequentemente, maior a renda que banca toda a estrutura jornalística da empresa. Sem notícias sobre acidentes e atentados, eu provavelmente nem teria meu emprego.
No entanto, ainda penso que aquela notícia sobre os mineiros chilenos em greve despertaria o interesse de um ou outro. Poderia não ser a matéria mais lida, ou a mais comentada, mas cumpriria seu papel de informar o que está acontecendo no mundo e pautar um assunto relevante para discussão. Além do mais, a história não disputaria o espaço físico de uma página de periódico, ou os minutos de um telejornal. Haveria lugar tanto para os grevistas quanto para os motoristas bêbados. Os bêbados ganhariam a capa, obviamente.
Naquele domingo, a matéria sobre a greve na mina de cobre não foi ao ar – não no nosso site, pelo menos. Horas depois, a agência de notícia enviou outra manchete: “colisão entre dois trens na Índia”. “Quantos mortos?”, alguém perguntou. Ainda não havia essa informação. “Ok, ficamos no aguardo”. E seguiu-se o plantão.