Comunicação alternativa: a que?
7 de junho de 2011 Processocom
Por Joel Felipe Guindani
A comunicação é por natureza alternativa. Alternativa a tudo aquilo que não é comunicação, ou seja, a tudo que é incomunicação, que é obscuro, que não é entendido, que não é dito ou o que não é revelado.
Comunicação alternativa é alteridade, quer dizer, tem a ver com tudo aquilo que depende do outro para ser ou para existir. Então, comunicação alternativa é aquilo que, obrigatoriamente, necessita da inclusão do outro para ser. Se houver alguma barreira que dificulte a inclusão do outro, já podemos começar a duvidar de que isso ou de que aquilo se trate de comunicação alternativa.
Comunicação alternativa pode ser aquela experiência que reanima tudo o que está, por algum motivo, em um estado de incomunicação ou de silenciamento.
Mas, comunicação como alternativa a que tipo de incomunicação? A comunicação alternativa está na história, faz-se resistência e luta contra os atos de incomunicação praticados contra os famintos, sejam crianças, mulheres trabalhadoras, negros marginalizados ou brancos desempregados.
Ao longo dos 500 anos de colonização, não é difícil pontuarmos algumas práticas de incomunicação, como:
1) O extermínio de mais de 50 milhões de índios, na época da descoberta;
2) O tráfico dos escravos negros arrancados da África, entre os séculos XVI e XIX;
3) O sistema de escravidão e de servidão imposto pelo mundo da produção capitalista;
4) As matanças e repressões contra inúmeros protestos, rebeliões e insurgências populares (Canudos, Contestado, Curumbiara, Eldorado de Carajás)
5) A tortura, a prisão, o exílio aplicados aos dirigentes e a todos os que ousaram opor-se ao sistema colonial/capitalista;
6) As ondas de migrantes expurgados de suas terras;
7) A devastação da natureza para a transferência de riquezas para os países centrais;
8) A imposição cultural, religiosa e política que sustenta os governos autoritários no poder;
9) A subordinação da soberania nacional aos circuitos políticos internacionais, como ao FMI e aos demais acordos fechados através da incomunicação com os países do hemisfério sul;
10) A especulação financeira e a armadilha da dívida externa, do déficit zero;
11) …..
Tais silenciamentos históricos ainda fundamentam a concentração midiática atual, seja a dos grandes meios ou massiva, como também a virtual, que mesmo expandindo as possibilidades de comunicação não possui uma base produtiva tão participativa ou democrática. Assim, a produção científica e os saberes necessários ao manuseio das novas tecnologias estão, inicialmente, nas mãos de alguns. Então, o controle da situação – tanto de fabricação, quanto de uso – partem sempre de um ponto e esse ponto está naquela ponta que detém o poder econômico e cultural: ainda são da cultura e do poder econômico dominante o uso e o controle primeiro.
A incomunicação ou a falta de comunicação é, sem dúvida, o núcleo central de todas as formas de poder, que geram os autoritarismos e silenciamentos atuais. Na página 123 do livro Direito e Democracia, Habermas afirma que “os homens não podem nem interagir, nem comunicar-se discursivamente senão na perspectiva de uma ordem social não repressiva (…) a qual, precisamente, não existe, mas que tais antecipações nos autorizam a definir como possível”. Possível, pois onde há a incomunicação há, também, resistências e lutas por comunicação.
Desponta, assim, a comunicação alternativa de maneira diversificada, que força a hegemonia da incomunicação a partir de uma nova ordem produtiva, de conteúdos e de sentidos rápidos, difíceis de serem controlados.
Enfim, há diversos modos de se compreender e de ser fazer comunicação alternativa, mas creio que uma pergunta pode nos ser comum: quem sou eu mediante aquilo que precisa ser feito para que exista a comunicação alternativa que acredito ser necessária?