Posição sobre a pesquisa no Brasil

28 de abril de 2011 Processocom

Por Nísia Martins do Rosário

Apesar do texto que vou comentar já ter circulado midiaticamente em mais de um meio, entendo que ainda vale a pena retomar essa reflexão. Miguel Nicolelis, pesquisador brasileiro de destaque, deu uma entrevista ao Estadão que teve  muita repercussão e o título já diz muito sobre os motivos de sua grande circulação: “Einstein não seria pesquisador 1A do CNPq”. A entrevista, além de trazer um conjunto de informações relevantes sobre neurociência, faz uma crítica ao sistema de gestão da ciência no país.

O que é relevante de modo geral é que Nicolelis expressa uma posição que é similar a de muitos pesquisadores brasileiros, mas que não ganha espaço de discussão e ação consideráveis, tampouco parece ter escuta nas instituições produtoras e gestionadoras da pesquisa. Se o senso comum da baixa auto-estima de país em desenvolvimento pode ainda atingir alguns pesquisadores, não atinge Nicolelis. Ele afirma, como já sabemos, que o Brasil está cheio de talentos humanos – muitos dos quais, aliás, já vimos rumar para outros países onde seu trabalho é mais reconhecido. “Na realidade, os americanos não contam com pessoas mais capazes lá. O que eles têm de diferente é um número maior de pesquisadores, processos eficientes, gestão científica profissional (…) e dinheiro.”

O estímulo nas posições de Nicolelis é a de assumirmos o papel reinvindicador em relação às necessidades reais de desenvolvimento da pesquisa no Brasil. Nessa perspectiva, é fundamental a contraposição no que diz respeito ao “índice gravitacional de publicação”, que coloca o peso maior na pontuação curricular do que no impacto das investigações desenvolvidas. Contudo, ainda outro aspecto precisa ser considerado, o da democratização da pesquisa: “É uma atividade extremamente elitizada. Não temos a penetração popular adequada nas universidades. Quantos doutores são índios ou negros? A ciência deve ir ao encontro da sociedade brasileira.”

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