Impressões de um ouvinte no XXI Salão de Iniciação Científica da UFRGS
3 de dezembro de 2009 Processocom
Marcelo Ferreira
Ao final de três meses de esforços para conseguir dar os primeiros passos da minha caminhada como bolsista de iniciação científica, sob orientação do Prof. Dr. Efendy Maldonado, começo a sentir alguma evolução. O que chama a atenção, até aqui, é a forte ligação entre meus aprendizados e a pesquisa desenvolvida por Efendy e da qual estou participando, a Transmetodologia. As experiências são diversas e muitas são uma novidade em minha vida acadêmica como graduando em Comunicação, com habilitação em jornalismo. Neste texto, vou relatar minha participação, como ouvinte, no XXI Salão de Iniciação Científica, realizado entre os dias 19 e 23 de outubro de 2009, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), descrevendo e problematizando minhas impressões, opiniões e sensibilidades a respeito do evento.
Meu ingresso na iniciação científica aconteceu em agosto, sendo que as inscrições do Salão haviam encerrado em julho. Sem poder apresentar algum trabalho, resolvi participar como ouvinte, aproveitando o evento sob outras óticas. Num primeiro momento, pensei que seria uma ótima oportunidade para conhecer a sistemática de funcionamento dos eventos de iniciação científica, já tendo em vista minha futura participação em um. Ao mesmo tempo, seria uma ótima oportunidade para conhecer as pesquisas desenvolvidas por outros bolsistas e as variedade de temas, formas de abordagem e metodologias. Para minha alegria e crescimento, ao término, as expectativas foram superadas.
Confesso que fiquei surpreso com um fato peculiar: nas sessões que frequentei, fui o único participante inscrito como ouvinte. Ademais, estavam presentes a banca, composta sempre por três professores da UFRGS, os apresentadores de trabalhos e, em alguns casos, os seus orientadores como visitantes. Não sei o valor atribuído a este tipo de participação – como ouvinte – mas, para mim, neste momento de tatear no escuro, de descobrimento de novas realidades, foi uma experiência panorâmica e reflexiva de valor inestimável.
Tive alguns critérios para a escolha de quais sessões participaria, e as elegidas foram, na seguinte ordem: Comunicação, Linguagem e Organizações C; Relações Políticas Internacionais; e Comunicação, Linguagem e Organizações D. A primeira e a última foram escolhidas por serem da área da comunicação. Já minha participação na sessão Relações Políticas Internacionais deu-se, primeiramente porque constatei, ao ler a programação, que os trabalhos eram sobre a América Latina. A temática, além de ser de apreço pessoal, é uma das bases para a compreensão da necessidade da transmetodologia, idéia desenvolvida na pesquisa da qual participo como bolsista. O fato de participar de um grupo com bolsistas de cursos como ciências sociais, economia e relações internacionais também me instigou a fazer essa escolha, já que seria uma boa oportunidade para conhecer pesquisas que estão sendo feitas em áreas afins ao conhecimento em comunicação – e que também são caras à transmetodologia, que reconhece a necessidade das outras ciências na análise de problemas comunicacionais e suas complexidades.
Uma das percepções interessantes, ao comparar os trabalhos da área da comunicação com os da sessão Relações Políticas Internacionais, foi a questão metodológica. Recordo que, já no primeiro trabalho apresentado nessa sessão, “Digitalização e Cooperação na Área de Segurança na América do Sul”, anotei no caderno: “muitos dados coletados e pouca organização na análise e apresentação dos mesmos”. Após a apresentação, a banca questionou a bolsista sobre a metodologia utilizada na realização do trabalho, e sua resposta foi que primeiro havia coletado dados e depois partido para uma teoria sobre o tema. O conselho da banca à aluna foi que ela conversasse com seu orientador e pedisse um auxílio na questão metodológica, que a auxiliaria na elaboração de uma fundamentação teórica e na organização e relação dos dados coletados com as teorias escolhidas. Os trabalhos subseqüentes tinham temas interessantes, mas a grande maioria pecava no mesmo aspecto: falta de metodologia. Um comentário freqüente dos professores da banca era que o tema tratado era interessante, mas que deveria haver uma maior delimitação do objeto de pesquisa.
Já nas sessões da comunicação, metodologia não foi um problema. Pude observar a presença de muitas pesquisas interessantes, de diversidade de temas e referenciais teóricos, e tive a clara percepção dos fortes lugares de fala de alguns bolsistas. Foram trabalhos problematizando o jovem, a mídia alternativa, redes sociais e ferramentas da internet, formas de organização de “tribos urbanas” e identificação de grupos em diversas mídias.
Minhas impressões dos trabalhos apresentados nessas sessões pairam em torno das metodologias utilizadas pelos bolsistas. A meu ver, grande parte das abordagens ficaram presas a um pensamento que já está superado, o de que a mídia, por si só, molda pensamentos, gostos e opiniões. Acredito ser este um dos desafios da pesquisa em comunicação atual: dar conta da complexidade e das diversas mediações que transpassam a apropriação das mensagens veiculadas pela imprensa.
Sei que em breve vai chegar a minha vez. Então, não pude deixar de perceber outro aspecto, e este comum a todas as apresentações que assisti: o “friozinho na barriga” de quem está tentando dar o melhor de si e mostrar seu trabalho da melhor forma possível.