Outros olhares

23 de novembro de 2009 Processocom

Rafael Foletto

Acredito que no transcorrer do processo de fazer, experimentar, construir e compartilhar conhecimento científico, o contato com olhares distintos aos que estamos acostumados pode ser uma experiência, ao mesmo tempo, desafiadora e suscitadora de proveitosas reflexões. Seja para repensarmos as nossas próprias convicções e visões ou para redimensionarmos as concepções diferentes, contextualizando-as dentro do universo epistemológico que se encontram inseridas.

Pois, recentemente me deparei com essa experiência de dialogar com outro olhar. Ao longo da semana, fui emergindo em um panorama pragmático de fazer ciência, de observar os processos midiáticos, sociais, políticos e culturais. Um olhar da dinâmica das sociedades ligada à questão de garantir e possuir visibilidade em tempo de comunicação de massa e assim possuir a capacidade de influenciar na formação de agendas públicas.

Nesse sistema-mundo de disputa pela esfera pública, o indivíduo ganha maior importância que a comunidade e exerce o papel de consumidor de decisões políticas, diga-se de passagem, de decidir os seus representantes e líderes no mercado eleitoral e posteriormente acompanhar as agendas e decisões emanadas por eles. Segundo essa visão, as sociedades com muita participação popular levaram a governos autoritários, prejudiciais à idéia de democracia liberal.

Na segunda aula, uma colega colombiana me perguntou se eu concordava com essa visão. Respondi que mais do que ser uma questão de estar de acordo ou não, trata-se de uma aventura antropológica de estar em contato com o “outro”, no caso outra cosmovisão que não era a minha, que não estava acostumado a pesar e ver o mundo por essa ótica. Imediatamente ela concordou comigo e disse: “pois a minha visão é parecida com a tua, mas já escrevi mais de 10 páginas sobre essa outra visão, pensando, relacionando com a minha”.

Assim, mais do que refletir se essa, a minha, a da colega colombiana ou outra visão é a certa ou a mais apropriada para pensar o mundo, acredito que justamente a experiência de deparar-se com o diferente é provocadora para seguir na empreitada de construção do saber científico, enquanto prática social, bem como para refletir sobre as nossas concepções, idéias, valores e cosmovisões.

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