Uma Pandorga que pode deixar de voar

19 de outubro de 2009 Processocom

Maria Lúcia Patta Melão

Em agosto de 1988, entrava no ar, na TVE do Rio Grande do Sul, um programa que tinha como público alvo as crianças gaúchas. De forma despretensiosa e até artesanal, o Pandorga surgiu com a proposta de ser o contraponto aos programas infantis existentes na época, como o comandado por Xuxa Meneguel, onde o consumismo, entre outras características, era um aspecto bastante destacado. Por meio de histórias desenvolvidas por personagens humanos e bonecos (fantoches), eram levantados assuntos entendidos como importantes para as crianças, pois destacavam valores, como a amizade, a família, a preservação do meio ambiente, a importância da leitura.

Os anos foram passando e o Pandorga continuou firme no seu propósito de cada vez mais estar presente na vida dos pequenos gaúchos, oferecendo momentos de lazer, informação e educação. E isso foi possível manter mesmo com as mudanças que ocorreram ao longo do tempo. Saíram pessoas, entraram outras, os bonecos foram modernizados – deixaram de ser apenas uma cabeça e ganharam corpo. Cresceram. E se desenvolveram junto com muitas crianças, que hoje são adultos e ainda lembram dos personagens, dos momentos de convivência, mesmo que através da telinha da televisão. E como são 21 anos, muitos têm a oportunidade de ver os próprios filhos assistindo ao Pandorga.

Agora os filhos desses antigos telespectadores e muitas outras crianças podem deixar de conviver com esse programa. Pelos menos é o cenário que está sendo desenhado. Personagens não podem mais fazer parte do Pandorga, por questões legais que poderiam ser resolvidas se houvesse interesse. Por conta disso, ocorreu uma diminuição do tempo duração do programa, passando de 25 para 15 minutos, a alternativa encontrada pela produção para que o programa continuasse no ar. Não bastasse isso, a equipe foi reduzida de três para dois produtores, que também são os redatores e editores de um programa.  Considerando-se que o Pandorga trabalha com a criatividade, com a ficção e, principalmente, com uma linguagem diferenciada, há muita tarefa para poucos funcionários.

Luís Henrique (mais conhecido como Tinta), Jurandir (o Jura), Nina, Beti, Tuca e o cachorro Zé Cão formam a Turma de personagens do Pandorga. São bonecos que, através de situações vividas por muitas crianças, abordam questões do mundo infantil, como a briga entre irmãos, a importância da brincadeira, o uso moderado do computador, a escola. Despertam a imaginação de cada um, como no momento em que um cachorro fala com as crianças e nunca com adultos. Pois é, esse mundo tão fantástico e real ao mesmo tempo está por um fio, ou melhor, está sendo puxado com muita força e quase conseguindo fazer com que uma Pandorga deixe de voar.

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