Jornalismo e mentira
21 de setembro de 2009 Processocom
Ricardo Machado
“Pois o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por sua confrontação descarnada com a realidade… Ninguém que não a tenha vivido pode imaginar essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida… Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderá persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra se acaba depois de cada notícia como se fora para sempre, mas que não permite um instante de paz enquanto não se recomeça com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”. (Gabriel Garcia Márquez).
Garcia Márquez, escritor e jornalista colombiano, consegue, em poucas palavras, definir o que é jornalismo. Para ele, o jornalismo “se alimenta dos imprevistos da vida”, contudo, nem todos jornalistas compartilham dessa perspectiva. O fato é que existem jornalistas que promovem fatos para logo após midiatizarem isso, quase sempre com o uso de câmeras escondidas. Aliás, o uso desses equipamentos causa muitas controvérsias entre os próprios profissionais da comunicação, sobretudo, levando-se em conta aspectos éticos.
Recentemente o repórter da RBS Giovani Grizotti, passou-se por policial para comprar uma farda da Brigada Militar. Com uma câmera escondida o repórter entrou na loja e pediu um uniforme, o vendedor solicitou a identidade funcional, mas ele mentiu dizendo que havia esquecido no carro. Logo após, o repórter saiu da loja e caminhou nas ruas de Porto Alegre, passando-se por Brigadiano. Evidentemente houve falha do vendedor da loja, que foi negligente ao não obrigar a apresentação da identidade, contudo, o repórter agiu de má fé se passando por policial, mentido sua identidade.
No final das contas, a notícia só foi ao ar porque o repórter mentiu, pois se ele tivesse sido honesto, dizendo a verdadeira identidade dele, que é jornalista, provavelmente o vendedor não teria efetuado a venda do uniforme. Esse é um jornalismo bastante diferente do jornalismo ideal de Garcia Márquez, um jornalismo marrom que definitivamente não se alimenta dos “imprevistos da vida”, ao contrário, fabrica os imprevistos de acordo com os próprios interesses.