Eduardo Galeano apresenta “Espelhos – uma história quase universal”

27 de novembro de 2008 Processocom

Foto: Luis Ventura/Divulgação

"As únicas palavras dignas de existir são aquelas melhores que o silêncio"

Dentro da programação oficial da 54º Feira do Livro de Porto Alegre, o escritor uruguaio Eduardo Galeano desembargou na capital gaúcha para participar do tradicional evento Encontros com o Professor. Na ocasião, o autor conversou com Ruy Carlos Ostermann e leu trechos de sua mais recente obra: Espelhos – uma história quase universal. Ovacionado pela platéia, que o recebeu e aplaudiu de pé, Galeano subiu ao palco emocionado e agradeceu o calor humano dos brasileiros.

O bate-papo já começou com uma confissão de Galeano, o qual revelou que apesar de ter uma relação íntima com as palavras é um apreciador do silêncio. “As únicas palavras dignas de existir são aquelas melhores que o silêncio. Uma das piores coisas do mundo é a ‘inflação palavrária’”, declarou.

Sobre a motivação para escrever o seu último livro, definido por Ostermann como um conjunto de fragmentos da história, Galeano explicou: “é uma tentativa de ver o universo através do buraco da fechadura. Sou um averiguador da grandeza escondida nas coisas pequenas”, explicou e prosseguiu “tento limpar os olhos das teias de aranha impostas por um sistema que nos treina pra ser cegos”.

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Além disso, ele contou que sempre busca mensagens, nas paredes das ruas, e as guarda como histórias para serem contadas ou lições de vida. “Gosto de ver como as diferentes pessoas deixam as suas mensagens. As críticas mais profundas que li foram em muros das cidades, uma delas foi a seguinte: ‘as virgens têm muitos natais, mas nenhuma noite boa'”, falou arrancando risos e aplausos do público. Para não esquecer essas pérolas, Galeano disse que carrega um caderninho onde anota tudo: “se não anotar o vento leva. A memória precisa ser registrada”, confessou.

A preferência de escrever à mão é um dos hábitos que o escritor não abandona. “Sou um autocrítico implacável. Reescrevo muitas vezes meus textos e tudo isso à mão. Tenho prazer nisso. Mas agora, depois de anos de calúnias contra o computador, tenho finalizado meus escritos nele”, declarou e continuou: “eu tenho desconfiança sobre as máquinas em geral. Não sei se é pela minha condição pré-histórica. Tenho, inclusive, uma teoria de que todas elas bebem à noite, por isso que fazem aquelas coisas durante o dia. É a ressaca cibernética”, gracejou, levando todos às gargalhadas.

Após o bate-apo, Galeano anunciou que leria trechos de sua obra Espelhos. Entre os diversos temas, Galeano leu trechos que tratavam da Revolução Francesa e da questão racial, questionando se Adão e Eva eram brancos ou negros. Ao final acrescentou: “esse livro é uma homenagem à diversidade humana”, sendo muitíssimo aplaudido por todos que já formaram uma imensa fila para não perder a oportunidade de pegar um autógrafo do escritor.

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Fotos: Luis Ventura e Carlos Carvalho (Divulgação)

Perfil
Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu, em 1940. Ainda jovem, iniciou nessa cidade sua carreira jornalística e publicou seu primeiro livro. Viveu exilado na Argentina e na Catalunha, na Espanha, desde 1973. No início de 1985 voltou a Montevidéu, onde atualmente vive, caminha e escreve. Galeano comete, sem remorsos, a violação de fronteiras que separam os gêneros literários. Ao longo de uma obra na qual confluem narração e ensaio, poesia e crônica, seus livros recolhem as vozes da alma e da rua e oferecem uma síntese da realidade e sua memória. Em duas ocasiões foi premiado pela Casa de las Américas e pelo Ministério da Cultura do Uruguai. Recebeu o American Book Award da Universidade de Washington por sua trilogia “Memória do Fogo” e os prêmios italianos Mare Nostrum e Pellegrino Artusi pelo conjunto da obra. Foi o primeiro escritor agraciado com o prêmio Aloa, criado por editores dinamarqueses, e também inaugurou o Cultural Freedom Prize, outorgado pela Lannan Foundation, e o prêmio a la Comunicación Solidária, da cidade espanhola de Córdoba. Seus livros foram traduzidos para vários idiomas.

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